31/12/2010

Sorata, um refúgio a 3 horas de La Paz

Sorata é definido pelos viajantes como sendo o local ideal para relaxar depois de uma passagem pelo grande centro urbano que é a cidade de La Paz.
Localizado a cerca de 3 horas e meia de viagem, em mini-van, este pedaço de natureza é realmente um recanto pacífico, abraçado por montanhas e pelo Monte Illampu normalmente coberto de neve. O seu clima é temperado, propício aos mosquitos, contudo durante a nossa passagem fomos massacrados com chuva e mau tempo o que nos impediu de descobrir Sorata da forma que queriamos. Recordo que a época das chuvas já começou em força como tal não nos podemos queixar.


Seja como for, ficamos hospedados bem no centro da vila dispostos a fazer algumas caminhadas e a aproveitar estes dias para reconectar energias com a mãe natureza. Assim fintamos a chuva e num dia de manhã iniciamos uma pequena trilha por entre os vales de encontro ao rio. Devo dizer que a paisagem é fenomenal, aliás já tinha saudades deste contacto tão próximo e harmonioso com a natureza. Flores de todas as cores, a resplandescerem vida, galinhas, javalis e todo o tipo de animais ditos domesticados a correrem livres e selvagens, com todos os sons da natureza a cantarem nos nossos ouvidos foi uma dádiva que há muito ansiava. A parte má foram os mosquitos que em apenas alguns minutos me devoraram os braços como loucos.



Em Sorta há um outro highlight imperdível, trata-se da Gruta de San Pedro. Através de um treking de 12 km chega-se a esta caverna, habitada por seres das trevas - leia-se morcegos -, e com sorte talvez se possa banhar nestas águas gélidas que quase não vêm a luz do dia.
Infelizmente, devido ao tempo, não houve possibilidade de fazer muito mais como por exemplo escalar o Monte Illampu, contudo recomendo entusiasticamente esta paragem.

25/12/2010

Natal com cheirinho a Bolívia

A quadra natalícia é sempre sinónimo de reunião familiar e de alegria junto de quem mais gostamos. Contudo, estando a viajar esta data assume um espírito diferente porque as pessoas de quem mais sentimos falta estão longe e inacessíveis.
Assim, e a convite de uma carinhosa família boliviana, ficamos em La Paz para celebrar a noite de 24 de Dezembro e o dia de Natal, depois de uma semana de hospedagem em regime couchsurfing.

Durante o dia o skype e o facebook foram os nossos melhores amigos de forma a podermos compartilhar, ainda que à distância, os votos de uma boa festa e podermos apagar um pouquinho das já muitas saudades de casa e dos amigos.
A noite essa começou pelas 23h00, depois da missa tradicional, com perú recheado, muito vinho e um bom pão de ló português para nos aproximarmos das nossas raízes culturais. Houve troca de presentes, troca de palavras amigas, músicas de Natal e sobretudo carinho distribuído por todos.

Agradeço ao Jorge e à Velma por nos receberem em nossa casa como seus filhos, à Cláudia por toda a simpatia e amizade, mas sobretudo ao Sérgio Parrado de couchsurfing sem o qual nada disto teria sido possivel.
Espero um dia retribuir :)
Não posso contudo terminar o post sem mencionar a grandiosa prenda que o meu irmão me deu: "Into my arms", tema de Nick Cave and The Bad Seeds cantado via skype. A letra é linda e simbólica e sem duvida este foi o melhor presente que poderia ter recebido vindo da parte dele. Obrigada.

Um beijinho e feliz Natal a todos.

20/12/2010

Copacabana, um dos chackras do Planeta Terra

Depois do burburinho e da multidão que assola a cidade de La Paz, decidimos ter como próxima paragem um destino mais tranquilo e de preferência em harmonia com a natureza. Como tal seguimos em direcção ao Peru para junto do famoso Lago Titicaca,com mais de 8000Km2, considerado por alguns especialistas como um dos 7 chackras do nosso planeta Terra. A cidade escolhida foi Copacabana, localizada a 3.841 metros acima do nível do mar e a 155 Km de La Paz.
Copacabana é turístico, sem dúvida, mas apesar de tudo é relaxante. E digo isto porque ter como horizonte o enorme lago rodeado de terra e montanhas depois de termos passado mais de um mês sem ver tanta água junta é uma visão tranquilizante. E a acrescentar a isto esta é uma região onde o clima é temperado por isso convida a um almoco descansado numa esplanada admirando a vista. É verdade, finalmente comi peixe. Truta para ser preciso, acho que já nem me lembrava do sabor hehe
Bom, a cidade de Copacabana convenhamos não tem muito para se ver com excepção da Igreja da Nossa Senhora da Copacabana que está localizada bem no centro, próximo do ponto onde páram os autocarros, e da avenida principal que vive repleta de artesãos e viajantes e que é um excelente sítio para fazer compras sobretudo nesta altura natalícia. Os preços incrivelmente são mais baratos aqui que em qualquer outra cidade boliviana onde estive.

Mas não há dúvidas que quem vem a Copacabana vem com o propósito de conhecer a Isla del Sol. Segundo a lenda andina, foi nas águas do Titicaca que nasceu a civilização inca. O "deus Sol" instruiu seus filhos, Manco Capac e Mama Ocllo, para procurarem um local ideal para seu povo e esse local viria a ser esta ilha. Ainda hoje existem ruínas, bem como o escadario em pedra, que comprovam a presença dos Incas que entre os séculos XII e XVI governaram esta região.

A Isla aparece dividida entre Norte e Sul. No Norte estão as ruínas dos templos usados para cerimónias e a sul inicia o escadario inca bem ladeado por duas estátuas dos dois filhos do "deus sol" com as suas coloridas vestes. A caminhada entre o Norte e o Sul demora em média umas duas horas e meia mas é o principal atractivo da ilha porque as paisagens a que temos acesso durante o treking são simplesmente fantásticas. A flora por sua vez lembra-nos de Portugal, centenas de eucaliptos espalhados por todo o lado num solo árido, consumido pelo tempo. Toda a ilha permanece habitada pelos povos uros, descendentes dos incas e que vivem, em geral, da pesca e da agricultura das margens do lago, ou do turismo.



De Copacabana poderiamos ter ido para o Peru ou regressar para La Paz. Optamos pela segunda, ao contrário dos planos iniciais, porque o Peru é gigante e ao contrário da generalidade dos turistas não queremos ir apenas a Cuzco, Nazca e Lima, queremos ir ao Norte. Portanto deixaremos para uma próxima oportunidade e por agora vamos para Norte ao som de "Welcome to the jungle" dos Guns n Roses :P

16/12/2010

De encontro à cultura Tiwanaku em La Paz

A cidade de La Paz é uma das mais turísticas de toda a Bolívia, contudo nela se escondem algumas das mais importantes histórias do país, bem como algumas das mais imponentes paisagens desta viagem.

Capital administrativa boliviana, La Paz é uma cidade muito grande que merece ser visitada devagar para que nenhum pormenor escape. Para tornar a experiência ainda mais interessante enviei alguns pedidos de couchsurfing e felizmente obtive uma resposta positiva de um casal que vive na parte sul da cidade. Assim, e na companhia de um casal de couchsurfers franceses também aqui hospedado iniciamos a nossa longa travessia por La Paz.


No centro da cidade há muito que visitar, mas o mais fácil é começar pela Paseo del Prado, também conhecido com Avenida 16 de Julio. A partir daqui temos acesso a todos os pontos de referência, nomeadamente a Catedral de San Francisco e o Museu de Oro, que comprovam a abundância de minerais ricos neste país. Toda trabalhada em pedra e abundantemente recheada de ouro, esta catedral está localizada bem no final da Rua Sagarnaga onde estão todas as lojas de artesanato e agências de turismo para comprarem o vosso tour para o Caminho da Morte. Na verdade, deixei esta aventura para depois de Copacabana porque vou regressar aqui para o final de ano.
Numa das perpendiculares da Rua Sagarnaga fica o famoso Mercado das Bruxas (Witches Market) onde se podem comprar as mais estranhas coisas como esqueletos de lamas que servem para se enterrar nos quintais como forma de obter sorte nos cultivos, estimulantes naturais de libido, pós e unguentos para atrair sorte, amor, dinheiro e outros. Até San Pedro, os cactus carregados de mescalina, podem ser aqui adquiridos a baixo preço replicando assim as experiências que os incas habitualmente tinham na natureza.

É igualmente fascinante visitarem o Parque Mirador Laikakota e o Mirador Killi Killi de onde têm uma visão estonteante da cidade. La Paz para quem não sabe fica localizado bem no centro das montanhas e é impressionante perceber a sua geometria, ladeada por uma natureza densa e rochosa.
A 72 km da cidade de La Paz ficam as Ruínas de Tiwanaku, um complexo arqueológico em recuperação que inclui templos subterrâneos, monólitos, museus com artefactos recolhidos nesta região, pirâmides e ainda Puma Punku, uma estrutura constituída por pedra líticas onde se encontram grampas metálicas de cobre e cuja explicação para os seus perfeitos cortes é muitas vezes remetida para ajuda alienígena. De realçar que as pedras usadas para muitas das estruturas visíveis em Puma Punku são originárias de uma região que dista mais de 200 km pelo que também o seu transporte é questionado ainda hoje. No mesmo complexo fica ainda a famosa Puerta del Sol, com cerca de 10 toneladas, conhecida a nível mundial como um dos exemplos da perfeição que a cultura Tiwanaku alcançou. No passado a mesma encontrava-se revestida de barras de ouro.




A caminho de Tiwanaku fica a vila El Alto. Trata-se de um pequeno povoado, marcadamente indígena, onde normalmente se pode assistir a rituais satânicos. Há também uma feira, todos os domingos, que vale a pena visitar, se possível no retorno da visita às ruínas.
Não posso deixar de falar do Valle de la Luna. Situada em La Paz, a uns 30 minutos de viagem desde o centro, este local consiste num conjunto de formações rochosas que por força da erosão da água e do vento se assemelha à superfície da lua. Nestas rochas podem observar as mais diversas figuras como uma tartaruga, uma dama com um sombrero e até mesmo a figura do diabo.


Como referi em cima não fiz ainda o Caminho da Morte, a estrada que une La Paz a Coroico e que é catalogada como uma das mais perigosas do mundo, contudo e a convite de um grego que conheci na viagem decidi ir até Coroico para uma experiência com San Pedro. Coroico é simplesmente um paraíso à espera de ser visitado. Com uma vegetação e clima tropical, este pedaço de céu reúne uma grande variedade de aves e mamíferos selvagens, bem como uma flora de cortar a respiração. Montanhas carregadas de coca, com cores e formas variadas, e poços naturais de água que brotam do seu ventre fazem-nos pensar no quanto é importante mantermos o equilibro com a natureza.



Aqui consegui esse equilíbrio e sinto-me feliz.

08/12/2010

Uyuni, o maior deserto de sal do mundo

A Bolívia é feita de records. Se antes de Uyuni estivemos na mais alta cidade do mundo, Potosí, o destino seguinte foi a maior planície salgada do mundo com 10 biliões de toneladas de sal, espessura de 120 metros e altitude de 3650 metros. Mas o tour ao Salar de Uyuni contemplou ainda outras maravilhas da natureza como desertos de areia, lagoas coloridas, vulcões, geysers e muito mais.
Pelos muitos perigos que uma aventura como esta acarreta foi necessário adquirir o pacote de visita ao Salar numa agência. Escolhemos a Andes Salt Expedition por recomendação de outros viajantes e a verdade é que não podíamos ter dito mais sorte quer com a cozinheira e guia, quer com o grupo de 4 pessoas que nos acompanhou nesta jornada.
Assim, pelas 11h00 da manhã arrancamos em direcção ao cemitério de comboios. A linha ferroviária onde os mesmos estão estacionados há décadas foi no passado a mais importante via de exportação de minerais, principal recurso natural da Bolívia. Daqui seguimos para um povoado chamado Colchani onde observamos o processo milenar de refinação do sal. Basicamente, as toneladas de sal extraídas do salar são colocadas num forno para que a água se evapore e posteriormente são misturadas com iodo para eliminar impurezas. No final desta operação o sal está pronto a ser embalado e consumido.

A viagem continuou agora em direcção aos Ojos de Sal já em pleno Salar de Uyuni. A coloração branca do sal estende-se por quilómetros e quilómetros e é uma verdadeira tentação para quem quer dar largas à imaginação junto da câmara fotográfica. Estes ojos de sal que fomos visitar são pequenos buracos cheios de água fria salgada que se encontram no deserto e que reflectem a intensa actividade vulcânica que aqui existe e que foi a responsável pela criação deste salar, anteriormente tido como mar.


A próxima paragem seria a Isla del Pescado. Esta ilha é um habitat de cactos com centenas de anos (a cada 100 anos o cacto cresce um metro), mas também a morada de muitos lamas e pequenos coelhos. A ilha é fascinante e permite-nos ter uma ideia da grandiosidade deste deserto. Foi aqui que almoçamos e que podemos voltar à sessão fotográfica.

O primeiro dia do tour terminou com uma visita ao local de onde são extraídos os blocos de sal necessários para a construção dos hotéis de sal e outros edifícios aqui erigidos. Nesta região para além do sal abundam minerais como zinco, lítio, magnésio e bórax.
O segundo dia do tour começou pelas 07h00 da manhã e teve como primeira paragem o povoado de San Juan, onde observei de perto a vida natural e o comportamento sexual dos lamas. Hehe. Sabiam que se deixarem 100 lamas livres numa área selvagem, após 3/4 anos eles se multiplicaram para 400? Haja actividade! Bom, muitos quilómetros à frente paramos junto de alguns vulcões inactivos para observar as formações rochosas criadas a partir da lava quente expelida em tempos por estes deuses da natureza. Na verdade, em todo o salar apenas um dos vulcões continua em actividade.
Seguem-se as Lagunas Hedionda, Charcota, Honda e Ramaditas, onde abundam os flamengos coloridos que se alimentam de pequenos seres existentes nestas águas. Aqui há muitos minérios, mas felizmente os mesmos não podem ser extraídos porque se encontram localizados numa área protegida. Estas aves procuram a Bolívia durante este período do ano e quando inicia o Inverno refugiam-se em áreas mais quentes como a Argentina ou o Chile.




Da parte da tarde, entramos no Deserto de Siloil, um deserto onde existe uma mistura de sal, terra e areia. É aqui que fica a famosa Arbol de Piedra, uma formação rochosa que se assemelha a uma árvore mas que infelizmente não dá frutos :P Neste local as formações rochosas são um incentivo à imaginação porque podemos ver nelas as mais diferentes figuras.

A viagem deste segundo dia terminou na Laguna Colorada, bem avermelhada pelos minerais que aqui existem. Nesta noite pernoitamos num refúgio, onde a electricidade apenas está disponível entre as 19h00 e as 21h00 e não há direito a banho porque não há água.

O terceiro e mais cansativo dia do tour começou ainda de madrugada, pelas 04h30. O ponto de partida foram os geysers e o magma incandescente que confirmam que a actividade vulcânica está presente. O frio a esta hora da manhã é estupidamente exagerado e até o sol nascer e nos presentear com o seu poder foi bater o dente vertiginosamente. Este último dia teve como paragens o Deserto de Salvador Dali, assim baptizado por se assemelhar em muito a uma das pinturas do espanhol, bem como a famosa Laguna Verde que adquire uma tonalidade esverdeada devido aos minerais que contém, mas para a vermos nesta cor é necessário que haja algum vento, coisa que só acontece da parte da tarde. Terminamos com o Valle das Rocas, um local com formações rochosas igualmente estranhas e de muito poder criativo.


Devo dizer que este tour superou em muito as expectativas e que me sinto uma felizarda por ter tido a oportunidade de o visitar. Aos que nunca tiveram a oportunidade de lá ir espero que as imagens falem por si :)

03/12/2010

No topo do mundo, Potosí

Quando decidimos ir a Potosí tínhamos como referência que esta é a cidade mais alta do mundo, localizada a cerca de 4.000 metros de altitude. Como tal, a estrada entre Sucre e Potosí é belíssima porque nos permite diversos olhares sobre a cordilheira dos Andes. A viagem é curta, nada mais do que 3 horas, portanto o ideal é fazê-la de dia para observar a imponência destas montanhas.


Por estar tão alta, Potosí é uma cidade fria durante a noite e quente durante o dia. Por outro lado, a altitude elevada provoca algumas dores de cabeça e alguma fadiga porque o ar é mais rarefeito. A solução é beber mate de coca ou então mastigar folhas de coca para poder dilatar os vasos sanguíneos e assim diminuir a pressão.
Historicamente, a cidade de Potosí é uma das mais importantes da América do Sul. Devido às muitas montanhas que aqui existem a quantidade de minérios é abundante, sobretudo de prata e estanho. Assim, durante o período colonial, escravos trazidos de África, mas também milhares de indígenas foram obrigados a trabalhar dia e noite nas minas de forma a financiar todo o império espanhol. A mina mais importante está localizada no Cerro Rico, do qual é possível ter uma vista deslumbrante de todo Potosí e dos Andes. Ainda em funcionamento, esta mina é conhecida como a Montanha que come homens vivos porque durante o período colonial morreram aqui mais de 8 milhões de mineiros. É uma realidade bem dura a que ainda hoje se vive nesta região. Homens de todas as idades, mas infelizmente também crianças (apesar do número ter vindo a diminuir devido à intervenção de ONG de todo o mundo) labutam todos os dias, por vezes 24 horas seguidas, alimentando-se de folhas de coca para se manterem acordados, diminuírem a fome e terem mais energia. Apesar de ser algo cultural, porque não existem muitas outras oportunidades de trabalho a quem não tem estudos, o que é certo é que nenhum destes homens vive acima dos 50 porque a elevada exposição ao pó dos minérios acaba por provocar lesões irreversíveis nos pulmões. É também curioso perceber que os mineiros que aqui trabalham embora religiosos convictos fazem oferendas ao diabo no interior das minas como forma de se protegerem contra explosões e outros perigos que aqui existem diariamente. Dizem que fora das minas o protector é Deus, mas no interior das minas quem manda é o diabo. Para o efeito em cada mina existe uma imagem de uma espécie de belzebu, à qual chamam de El Tio, e que diariamente recebe oferendas como folhas de coca, bebidas alcoólicas, cigarros entre outros. Quando a extracção de minério está fraca sacrificam um lama atirando o seu sangue contra a entrada das minas como forma de satisfazer “El Tio” de sangue para que não sacrifique as vidas humanas dos trabalhadores. Sugiro a quem não teve a oportunidade de visitar uma destas minas que veja o filme “The Devil’s Miner”, é chocante mas mostra a realidade nua e crua como ela é.


Para além das minas que são indubitavelmente a principal atracção da cidade, Potosí é igualmente famosa pelo seu Museo de La Casa Nacional de la Moneda. Com uma duração média de duas horas, a visita a este museu permite-nos passar em revista todo o processo de extracção de minérios das montanhas do Cerro Rico, a fundição dos respectivos minérios e a consequente produção de moedas que eram utilizadas para trocas comerciais desde o período colonial até ao início do século XX. Se inicialmente as moedas tinham formas irregulares porque as máquinas existentes eram pouco precisas à medida que os anos foram passando a Suíça desenvolveu um modelo chamado Maquina Laminadora de Metal cuja força motriz eram os cavalos e mulas. Devido à altitude, frio e excesso de esforço estes animais não viviam mais do que 70 dias. O museu reúne ainda uma colecção de minerais da América do Sul, bem como uma colecção de objectos de prata existentes em diversas igrejas bolivianas e finalmente uma colecção paleontológica que apresenta desde utensílios de cerâmica de tribos indígenas a múmias de crianças que estiveram armazenadas numa igreja boliviana durante séculos.

O centro da cidade é também bonito de se visitar. A praça principal, apelidada de Plaza 10 de Noviembre, apresenta várias esculturas banhadas em ouro bem como um instrumento musical que caracteriza o lado folclórico e cultural deste povo. Junto à praça está também a imponente Catedral de Potosí, com muita arte sacra para apreciar, bem como o Mercado Central, a opção mais acertada para almoçar ou comprar produtos regionais.


Realço que Potosí está de momento a comemorar o seu bicentenário pelo que a cidade está em festa, com uma programação cultural mais forte. Com os Andes como cartão-de-visita a viagem prossegue em direcção à maior planície salgada do mundo, o Salar de Uyuni. Serão três dias de expedição para não mais esquecer.

02/12/2010

Sucre, cidade colonial cheia de cor

Depois de carregar energias em Samaipata, onde a natureza fala mais alto e a mente relaxa, avancei para nova cidade, Sucre, capital da Bolívia. A estrada que une ambas as cidades é simplesmente assustadora. São 12 horas de viagem e a estrada é em terra batida com profundos precipícios a dizer-nos olá logo do outro lado da janela. Para melhorar a coisa convém lembrar que estamos na Bolívia portanto cintos de segurança e afins é coisa que não existe.
De qualquer das maneiras, lá cheguei sã e salva a Sucre. Contudo e porque nem tudo são rosas ficamos num Hostel um tanto ao quanto esquisito. Chama-se Cruz de Pompoyan e digamos que a simpatia não é regra da casa. Aqui foi-nos negado o acesso ao facebook sobre a justificação de “porque sim” e aspectos tão importantes como ter um frigorifico para colocar as bebidas a refrescar não foram tidos em conta pela gerência. O cartão-de-visita não foi bom logo de inicio, mas Sucre acabou por revelar algumas maravilhas.


Começamos por visitar a Plaza de Las Armas, considerada uma das mais bonitas praças da América do Sul. Desta zona central temos acesso imediato à Catedral, bem como à Casa da Cultura, dois locais com uma arquitectura bem interessante. Junto à Plaza existem vários casarões coloniais, a maioria deles transformados em bancos, que valem a pena ser admirados com pormenor. No Domingo, como não podia deixar de ser, enfiamo-nos numa mini van com mais 22 pessoas (excluindo dois bebes que não contam para estatísticas) a caminho da Feira de Tarabuco. Foi uma verdadeira sardinha enlatada, mas pelo preço de 8 bolivianos (cerca de 0,80 cêntimos de euro) para 60 km até que não está mal, e a aventura é isso mesmo. Tarabuco é repleto de cores, diferentes formas de artesanato, histórias e muitas lendas. Os preços que aqui se praticam são quase absurdos. Encontram tecidos, carteiras, cachecóis, luvas, meias, roupa, gorros, colares, tecidos, calçado, produtos regionais, enfim todo o tipo de souvenis possíveis a bom preço. Para terem uma ideia comprei uma carteira de mulher toda trabalhada à mão por 1,50€. Alto negócio hein? A praça de Tarabuco é uma referência. Nela podem ver a estátua de um indígena tarabuquenho com um coração de um soldado espanhol na mão. Reza a história que quando os espanhóis invadiram esta cidade carregados de armas, os indígenas resistiram com o que tinham e mataram de forma violenta os muitos espanhóis arrancando-lhes o coração e bebendo o seu sangue em jeito de vitória.


No dia seguinte visitamos pela manhã o Museu Nacional de Etnografia e Folclore, situado próximo da Plaza. A título gratuito tivemos a oportunidade de ver as diferentes máscaras que caracterizam as festividades bolivianas, sendo que a generalidade delas pode ser encontrada em Oruro, conhecido por ter o melhor Carnaval da Bolívia, e na região de Beni já pertence à Amazónia Boliviana. No mesmo edifício, mas no segundo piso, podem observar o modo de funcionamento das antigas tribos que habitavam esta região e que diga-se de passagem tinham excelentes conhecimentos de engenharia hidráulica para a altura. Da parte da tarde demos um salto ao Parque Cretácico. O Parque em si é absolutamente inútil para os 30 bolivianos que se têm de pagar de entrada, e embora seja considerado o maior parque paleontológico do mundo, a verdade é que é demasiado pequeno e não tem muita informação. De qualquer modo, perto dele há um grande mural onde é possível observar diversas pegadas de dinossauros com mais de 68 milhões de anos. A vista da cidade a partir deste local é também digna de ser postal.


Despedimo-nos de Sucre com uma ida ao Joy-Ride, um bar que tem o slogan “No solo para gringos” mas que na verdade só é frequentado por gringos (estrangeiros) lol. Fomos ver o Real Madrid de Cristiano Ronaldo e José Mourinho apanharem 5 secas numa partida emocionante contra o Barcelona. O rumo seguinte? A cidade mais alta do mundo.